Matéria do site Coletivo Verde, que eu reproduzo aqui por achar muito bacana e necessária!
bjo,
L.
O Jeans e o Cenário da Moda Atual
Quando falamos em sustentabilidade e consumo consciente precisamos pontuar que comprar um produto é muito mais do que aquilo que estamos adquirindo. É uma urgência prestar atenção nos valores que estão por trás das mercadorias que compramos. E deve ser assim para tudo o que consumimos.O que seria a moda sustentável, como defini-la? Responder a essa pergunta é tarefa complexa e, temos que pensar em todo o processo de produção da indústria da moda, na utilização de materiais orgânicos e valorização de mão de obra local.
O processo de fabricação de apenas uma calça jeans consome quantidade de água igual a que uma pessoa precisa para viver durante um ano.
Para que o seu jeans seja sustentável de verdade, ele deve ser feito com algodão orgânico e para produzi-lo é necessário evitar o seu contato com produtos químicos e substâncias tóxicas. Entendam bem, não temos condições hoje, diante do cenário atual, de nos negar a usar a moda “não orgânica” (se assim podemos chamar…). E não é nossa proposta um boicote louco, inflexível e nada inteligente. Nossa única intenção é ter registros da situação real. Informação clara e séria que leva à reflexão. Reflexão leva a mudança de hábitos. E, mudança de hábitos é a única saída para nosso planeta, uma vida saudável para nossos filhos e nossos netos…
Certamente há uns três anos atrás eu não tinha essa inquietação ou noção do que havia por trás das roupas que eu comprava… E talvez ainda não tenhamos uma noção real da história de cada marca onde compramos… O controle ainda é praticamente impossível. Saber se uma empresa tem um processo industrial correto, com tecidos orgânicos, processo de tintura correto sem desprezo irresponsável no meio ambiente, valorização de sua mão de obra com respeito às leis trabalhistas, não utilização de mão de obra infantil e programa de aproveitamento de resíduos, não é tarefa fácil… Como consumidores ainda não temos estes dados ou mecanismos claros e eficazes de fiscalização para controle e decisão de “usar” ou “não usar”. Atrevo-me a dizer “ainda” porque sinceramente, diante da quantidade de informações que estão circulando, diante da consciência dos consumidores e seu perfil exigente, o que há por trás da moda ficará mais claro dia após dia…
A busca por um Jeans Mais Sustentável
Vale destacar que é preciso ter atenção quanto à certificação do algodão utilizado nos jeans. Esta postura torna-se “moda” ou “moda leviana” quando alguns empresários colocam etiquetas de produto orgânico, mas ainda utilizam algodão com emprego de agrotóxico para rápido crescimento ou, fibras sintéticas misturadas ao mesmo sem informar o consumidor.
Além disso, para ser sustentável mesmo, a mão de obra precisa ser remunerada de acordo com as leis trabalhistas bem como toda a parte de segurança do trabalho (EPI) e bem estar social, devem ser observados. Em relação ao tingimento, deve ser feito com coloração natural e as lavagens das calças devem ser feitas sem produtos químicos. Dessa forma pode-se implantar sistema de reaproveitamento da água empregada nas lavagens.
O programa de reaproveitamento ou reciclagem de todos os resíduos desse processo também é muito importante ou, gera-se lixo têxtil, um dos grandes agressores do meio ambiente. Para finalizar, o design deve ser objeto de desejo, fugindo do fantasma do “ecologicamente correto, porém, nada fashion ou brega, cafona, tortinho…”
O jeans é verdadeiramente sustentável quando:
- É feito com algodão orgânico e certificado ou, com reaproveitamento de jeans já existente no mercado;
- Mão de obra remunerada de acordo com as leis trabalhistas e atenção à segurança do trabalho;
- Tingimento é natural;
- Programa de reaproveitamento da água utilizada na lavagem que, para isso deve ser sem produtos químicos;
- Programa de reciclagem de resíduos, reduzindo quase em sua totalidade o lixo têxtil. Para que o produto chegue perfeito e desejável às prateleiras, deve ter um design interessante. Todo o processo de produção deve obedecer à legislação e às normas ambientais, buscando como complemento o melhor aproveitamento no uso de recursos naturais e a preservação da natureza e da biodiversidade.
Tingimento Natural: Para quem quer entender um pouquinho mais, as tinturas químicas que agridem profundamente os rios, no processo sustentável são substituídas por corantes naturais. Podemos citar como exemplo o cultivo sustentável da anileira, fonte de índigo natural (o azul vegetal) e o cultivo de alfafa, aveia e trigo que são fontes de clorofila, o pigmento verde.
Bom exemplo:
Na Holanda, a marca Kuyichi já consegue produzir uma linha de jeans 90% orgânica em larga escala. A marca conseguiu alterar praticamente toda a sua produção com adequação às necessidades do meio ambiente, diferente de outras marcas, que investem somente em linhas de jeans orgânico e por coleção. Seu jeans é resultado de algodão natural plantado e produzido com técnicas artesanais por índios do Peru, sem a adição de agrotóxicos ou de fibras sintéticas.
Quanto custa fazer uma moda correta? Essa é a questão… Quando os custos de um processo correto concorrem com os custos de fast fashion (que não tem seus produtos gerados dentro de uma cadeia sustentável por consequência da celeridade para atender a demanda de muitas coleções e no menor custo possível) o valor assusta. Uma calça da Kuyichi custa em torno de 150 euros (R$ 333,00). Porém, se compararmos isso a uma calça de grife (que quase sempre é fabricada sem a preocupação ambiental ou social), o valor torna-se mais real. Vale a reflexão: ao comprar um jeans por R$ 69,90, quem financia a diferença é o meio ambiente e a mão de obra explorada. É extremista? Sim! Mas, real. Podemos mudar instantaneamente? Não! Porém, podemos questionar e mover para que as mudanças na indústria da moda sejam pensadas…
Empresas que já trabalham com Jeans Ecologicamente Corretos:
A Tristar, uma empresa familiar do Rio de Janeiro , tem o jeans feito com algodão e tingimento orgânicos. Para ser limpo nada de água e sabão! Segundo a marca, 24 horas na geladeira ou freezer, matam as bactérias. O jeans sustentável ainda é dupla face, permitindo variações e consumo consciente. Um short e uma calça, ambos dupla face, foram produzidos dentro do total conceito de sustentabilidade. A Tristar fornece o tecido para diversas marcas no Brasil e no exterior. A idéia da marca carioca surgiu em uma feira de Berlim voltada para sustentabilidade. O tecido da Tristar é resultado do plantio de algodão em uma área preservada durante cinco anos, o que dispensou o uso de agrotóxico. Todo o processo foi comandado pela Santista Indústria Têxtil, de São Paulo.
A Tavex Corporation fabricante do tecido Bio Denim, que substituiu seus processos químicos por naturais em toda a linha de produção do produto. Um amido natural de batata foi usado no lugar da goma sintética e nos processos de lavagem e tingimento, a manteiga de cupuaçu foi utilizada como amaciante natural, resultado de uma parceria com a comunidade da Amazônia. A extração é feita por 700 famílias, o que movimenta recursos na região, atendendo as necessidades das famílias locais. O acabamento produzido com algodão reciclado e, feito exclusivamente com fibras e fios reaproveitados do próprio processo industrial. Além do Bio Denim, 75% dos ‘denins’ produzidos pela Tavex já recebem este acabamento, o que demonstra adequação da indústria ao meio ambiente. O lançamento do Bio Jeans foi feito pelo estilista brasileiro Carlos Miele, através da Miele Jeans em Nova York.
A Eden Organic é outra marca brasileira de São Paulo, que assiste 200 famílias no campo, produtores de algodão 100% orgânico. A marca desenvolve os princípios da sustentabilidade na indústria e em toda sua cadeia produtora. Os produtos têm um design extremamente estiloso.
Algumas marcas não adequaram toda sua produção, mas já criam linhas de jeans orgânicos. Uma delas é a Diesel que criou a linha “Pure Organic”, feita em algodão natural, e segundo eles, sem utilização de nenhum processo químico em sua produção. A Levi’s criou a linha Levi’s Eco, produzida com algodão 100% orgânico e certificado. Saiu na coleção passada. Agora em agosto, tentei achar aqui no Rio de Janeiro e não consegui.
Conclusão
Concluímos que, ao falar em moda, além de todo o exposto acima, as RELAÇÕES DE TRABALHO JUSTAS devem ser uma realidade. Todos os envolvidos na produção de uma roupa devem ser valorizados. O estilista tem todos os seus méritos e imensurável valor como criador, mas seu produto final terá muito mais valor agregado se o agricultor que plantou o algodão e a costureira que executou a peça também forem reconhecidos. As três partes merecem condições de trabalho e salários justos. Isso é dignidade social… É o lado da sustentabilidade que vai junto com a preservação ambiental. Para isso torna-se necessária a organização objetivando a produção local, diminuindo ou anulando o ato de importar material e mão-de-obra, o que alimenta a prática da mão de obra com preços injustos e vergonhosos. Assim, a indústria contribui para o desenvolvimento de sua própria região. Sempre, ao final de cada matéria faço questão de registrar que a moda tem dois grandes e urgentes desafios: a sustentabilidade e a inclusão – uma moda para todos.
E se você conhece outras marcas de jeans orgânicos, compartilhe os links conosco!
Por Lu Jordão – Duas Moda e Arte
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