sábado, 12 de março de 2011

E você? Tem o costume de freqüentar galerias de arte?

 
 
“E você? Tem o costume de freqüentar galerias de arte da nossa cidade?”. Jornalista e entrevistada inverteram os papéis, e tudo o que consegui responder foi um “erm... não muito”, engasgado e sem graça. A artista plástica Cláudia Renault foi a responsável pelo questionamento, em relação ao qual eu não pude fazer nada, senão me incluir em uma geração que simplesmente não visita as diversas galerias existentes pelas capitais desse país.
Gustavo Maia e Ronaldo Garcia bem que têm idade para fazer parte dessa geração. Só que o contato acontece, naturalmente, por meio da profissão que escolheram: artistas plásticos. Os dois trabalham juntos em uma casa grande e antiga, com um jardim enorme na entrada. O bairro é um dos mais tranquilos de Belo Horizonte, o Santa Tereza.

A idéia de montar um ateliê coletivo surgiu já nos primeiros anos na Escola Guignard. A função desse projeto (o qual leva o nome de
“Mamacadela”) não se limita à produção dos integrantes do coletivo, mas também tem o objetivo de fomentar o circuito artístico da cidade. “A idéia era criar esse espaço para que continuasse havendo uma troca de informações e experiências pós-faculdade. Um aspecto importante na sua concepção é de que o local funcionasse também como uma canal alternativo de arte. E em apenas alguns meses de atividade já organizamos quatro exposições aqui”, explica Gustavo. Não tardou para que o coletivo crescesse. Logo após a primeira exposição, um novo artista, Ramón Martins, foi convidado a formar o trio que atualmente coordena as atividades no ateliê.

Para atrair um público desacostumado a freqüentar as galerias tradicionais, eles organizam festas nas inaugurações de exposições, buscando sempre manter um diálogo com profissionais e produtores de diferentes áreas. De acordo com os idealizadores, a idéia tem funcionado. “Comprovamos algo que já imaginávamos: a produção artística na cidade é grande, mas ela, muitas vezes, não alcança os meios tradicionais. Em cada festa que realizamos aqui, descobrimos que cada um tem um pouco de produtor e artista, pois várias pessoas nos procuram com trabalhos e idéias para realizar na casa”, afirma Ronaldo. Se o interesse do público existe, e os espaços também, agora falta criar o hábito de freqüentar, de sair da nossa casa.

“Iniciativas como a do Mamacadela deveriam ser permanentes. Não é só necessário como recomendável não ficarmos presos aos espaços existentes. Os novos artistas devem ocupar esse novos espaços, ver o que tá acontecendo na cidade, trocar informações, ampliar os horizontes”, ensina a também professora Claúdia Renault.

“Meia-dúzia que produz para meia-dúzia consumir”

As galerias de arte se tornaram com o tempo ambientes não muito receptivos. Elas acabaram por criar um vínculo forte com o comércio. As portas parecem fechadas para quem não pode ou não tem interesse em comprar as obras que elas oferecem. Logo, o público que não compra se torna praticamente invisível. Existe uma meia-dúzia que consome o que uma outra meia-dúzia produz. De acordo com Gustavo e Ronaldo, isso só ajudou a criar e fortalecer um circuito fechado e elitizado de artes plásticas.

“Não existe muito essa cultura disseminada no Brasil de freqüentar galerias, as quais sempre foram associadas a uma elite que pode comprar. Isso acabou criando a idéia de que ela é apenas uma loja. Nós queremos sim vender nossos trabalhos, precisamos disso para continuar, mas de forma alguma queremos que o público fique restrito aos compradores”, afirmam. O Mamacadela não pretende fechar as suas portas agora para aquela mesma meia-dúzia. Embora o objetivo seja atrair um público novo, nesse não estão os principais compradores, por isso a necessidade de manter o contato com os dois “mundos”, ou misturá-los.

Quanto ao trabalho individual de cada um, ambos defendem a idéia de que só tendem a crescer. Trabalhar em coletivo é trabalhar por afinidade, por objetivo comuns, mantendo constantemente uma troca de informações.


Fonte: Overmundo

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